O aumento da preocupação com a solidão no século 21 foi destacado pelo respeitado periódico científico The Lancet, que formou um comitê em julho para estudar o fenômeno. Em um editorial, os responsáveis pela publicação ressaltaram como a falta de conexões sociais está cada vez mais associada a riscos para a saúde mental e física, incluindo doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, infecções, declínio cognitivo, depressão e ansiedade.
Diversas iniciativas relacionadas à solidão foram anunciadas nos últimos anos, como a criação de "Ministérios da Solidão" no Reino Unido e no Japão em 2018 e 2021, respectivamente. O comitê do The Lancet tem como objetivo definir a solidão, identificar formas de combatê-la e explorar o tema com base nas melhores evidências científicas disponíveis.
O desafio ao abordar a solidão reside na sua natureza subjetiva, conforme destaca o psiquiatra Lucas Spanemberg. Ele ressalta que a solidão é uma sensação de desconexão e falta de pertencimento a um grupo social, com implicações emocionais e comportamentais, afetando a saúde mental e física.
Pesquisas, incluindo um estudo da Universidade Brigham Young, evidenciam a relação entre relações sociais fortes e maior longevidade. A coesão social é fundamental para a felicidade ao longo da vida, conforme destacado por um acompanhamento de 80 anos realizado pela Universidade Harvard.
A enfermeira Juliana Teixeira Antunes destaca que a solidão não está restrita aos idosos e pode afetar qualquer fase da vida. Seu trabalho de mestrado investigou como a solidão impacta os adolescentes brasileiros, identificando que fatores como violência familiar contribuem para o cenário, enquanto relações familiares positivas têm um efeito protetor.
O contexto atual, pós-pandemia de COVID-19, também é apontado como um fator que intensificou a preocupação com a solidão. A psicóloga clínica Dorli Kamkhagi destaca que o isolamento necessário durante a pandemia fez com que algumas pessoas se acostumassem à solidão, transformando suas casas em zonas de conforto das quais relutam em sair.
Os autores do editorial do The Lancet observam que a solidão é um produto da organização das sociedades e do mundo ao nosso redor, sendo influenciada por fatores como o design urbano solitário e o uso de redes sociais, que, paradoxalmente, podem aumentar a sensação de desconexão social.
Identificar e intervir na solidão antes que cause danos à saúde é um desafio. Kamkhagi destaca a importância de diferenciar a solitude, estar sozinho voluntariamente, da solidão prejudicial. Spanemberg acrescenta que a solidão muitas vezes está associada a descuidos com a saúde, perda de autocuidado e irritabilidade nos contatos sociais.
Para prevenir a evolução da solidão para problemas mais graves, como ansiedade e depressão, intervenções e cuidados são necessários. A colaboração com profissionais de saúde, como avaliações psicológicas ou psiquiátricas, pode ajudar a retomar as atividades sociais e reconectar-se com a comunidade. Pequenas ações, como uma caminhada no parque ou uma mensagem a um amigo, podem ser passos importantes na superação da solidão.
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